O transporte de cargas termossensíveis exige que uma série de variáveis seja controlada para não comprometer a qualidade do produto.
Fazem parte desse grupo não só a indústria alimentícia, como também a farmacêutica, por exemplo.
Ao contrário das cadeias logísticas convencionais, cujos riscos podem ser evidenciados e evitados através de processos de auditoria e inspeção, a cadeia logística do frio tem um desafio e tanto pela frente: lidar com as variações de temperatura.
Mesmo que sutis ou instantâneas, essas mudanças podem comprometer as propriedades do produto e resultar em efeitos nocivos ao consumidor final.
Por tabela, a imagem da marca também fica arranhada.
Por isso, as organizações que desejam atuar em conformidade com as diretrizes e estudos de agências reguladoras e normativas devem contar com um sistema logístico eficaz e confiável.
Nesse cenário, o Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, no interior de São Paulo, é um aliado e tanto para quem deseja garantir a eficácia de suas operações.
De toda a carga que passa por lá, 18% a 20% são de produtos de importação termossensíveis.
Não à toa, foi eleito o melhor aeroporto de carga do mundo pelo Air Cargo Excellence Awards 2018.
Mas, é claro, o título não veio de mão beijada para a Viracopos.
Segundo Marcelo Mazzali, farmacêutico responsável do aeroporto, a conquista aconteceu graças a uma mudança no posicionamento e nas ações direcionadas às cargas de cadeia do frio.
Veja nesse artigo quais foram elas.
Melhorias na infraestrutura
Em palestra durante o congresso Cold Chain, realizado em julho pela Blueprintt, o farmacêutico contou que o cenário anterior incluía um tratamento muito básico às cargas de termossensíveis.
“Embora fosse exigida uma prioridade legal, pela Receita Federal, de atendimento às cargas, não se controlava muito isso. Havia o processo de certificação pela ISO 9000, porém as cargas eram tratadas de maneira genérica; o pessoal não entendia muito ainda a questão da prioridade à carga de perecíveis”, lembra Mazzali.
Felizmente, as coisas vêm mudando – gradativamente e para melhor – no aeroporto.
O objetivo, claro, é garantir o melhor atendimento possível às cargas de produtos termossensíveis.
Entre as melhorias implantadas nos últimos anos, está a ampliação das câmaras frias de 13.000 m³ para 21.000 m³, o que representa um aumento de 61% na capacidade das mesmas.
Além disso, também podemos destacar a criação da antecâmara e a adequação da área de conferência.
E as mudanças já apresentam resultado: o farmacêutico afirma que no primeiro trimestre de 2018 o aeroporto aumentou em 27% as cargas recebidas em comparação com o mesmo período de 2017.
E para o segundo trimestre a expectativa é ainda melhor: um aumento de até 40% em comparação ao ano anterior.
Melhorias na comunicação
Mas como garantir que toda essa infraestrutura disponibilizada pelo aeroporto trabalhe a seu favor e garanta a manutenção da sua carga em perfeitas condições?
Segundo Mazzali, com uma ferramenta bastante simples: as informações prévias.
“A importadora ou companhia aérea deve informar, através de um pré-alerta, qual é o conteúdo daquela carga: qual o tipo de insumo, se são equipamentos sensíveis, medicamentos controlados”, explica o farmacêutico.
Enfim, para que toda essa infraestrutura de ponta funcione bem, é preciso haver uma comunicação transparente entre todos os envolvidos.
Até aqui, o sistema só apresenta vantagens: além de identificar a carga, as informações prévias também permitem que a equipe responsável pelo recebimento saiba exatamente como manuseá-la em sua chegada.
Isso inclui determinar qual é a prioridade na despaletização, para qual das câmaras frigoríficas o produto deve ser encaminhado e até mesmo em que momento ele deve ser levado para o caminhão de recolhimento.
Antes do pré-alerta, produtos termossensíveis eram tratados de forma genérica.
Imagine, então, o tamanho do prejuízo se uma leva de medicamentos sensíveis às variações de temperatura não tivesse um tratamento adequado.
Mas não é só o tratamento na hora do desembarque que importa.
Mazzali ainda conta que a preocupação com as cargas se estende até a sua saída do aeroporto.
Desde a implantação das melhorias no aeroporto, também virou pré-requisito para liberação da carga realizar o processo de checagem do caminhão responsável por levar o material para o próximo destino.
“Hoje, fazemos um check-list do caminhão na doca de liberação. Isso não existia anteriormente. Antes se puxava a carga e o caminhão nem mesmo estava pronto. A carga ficava esperando por duas, três horas até o caminhão chegar, sem controle de temperatura. Atualmente, toda carga perecível só vai à doca depois que o caminhão for verificado”, esclarece o farmacêutico.
Transporte de cargas termossensíveis
Todas essas mudanças no processo de manuseio, armazenagem e transporte de cargas termossensíveis mostram que o caminho está se abrindo cada vez mais para as organizações responsáveis por esse tipo de produto.
No entanto, vale lembrar que esses não são os únicos obstáculos a serem enfrentados.
É necessário investir em alguns aspectos-chave para garantir cadeias mais inteligentes. Entre eles destacam-se:
- Redes altamente especializadas, que estejam em conformidade com as normas e sejam absolutamente capazes de transportar os produtos com eficiência, ao mesmo tempo em que protegem sua integridade. O aeroporto de Viracopos é um ótimo exemplo disso;
- Processos globalmente consistentes, que possam contar com políticas e procedimentos de mitigação de riscos;
- Embalagens adequadas ao risco existente nesse tipo de processo devem usufruir de aspectos como tecnologia, adequação de custos e perfeição no manuseio;
- Por fim, uma estratégia consistente de custo total, que inclua avaliação de riscos e de custo real para as empresas caso a mesma não seja bem-sucedida.
Alcançar todas essas metas exige uma mudança de visão bastante significativa, uma vez que atualmente todos os procedimentos são voltados para a otimização dos custos.
É preciso desenvolver um pensamento orientado à maximização da qualidade.
Esses procedimentos, segundo Mazzali, são essenciais para garantir o melhor funcionamento possível da cadeia do frio, evitando que a carga seja tratada de forma genérica, causando perda de produto e afins.
Por fim, esse investimento também garante agilidade no processo de manuseio, armazenagem e transporte de produtos termossensíveis, garantindo melhor atendimento ao cliente durante todo o processo e mais qualidade ao produto.
Gostou da experiência da área de Supply Chain do Aeroporto de Viracopos?
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