Mercado chinês de meios de pagamentos faz 1º aporte no Brasil. Entenda

Nos últimos dias, não se fala em outra coisa no mercado financeiro além da aproximação das empresas de meios de pagamento chinesas às terras brasileiras, desta vez através da Tencent e Nubank, respectivamente.

Além de dona da Riot Games, que lançou o grande sucesso dos games League of Legends, presente no universo gamer com várias ações espalhadas por empresas do segmento, porém, também atualmente, grande fomentadora de como se utilizar a tecnologia como objeto de transformação social, eles também estão embarcando no cenário das fintechs.

Esta semana, eles anunciaram a compra de 5% das ações da Nubank, promissora fintech brasileira que, recentemente, conseguiu a liberação do Banco Central para atuar como instituição financeira. Agora, com este aporte entre US$ 180 milhões e US$ 200 milhões, elevou os investimentos que já receberam até hoje para US$ 420 milhões.

Em seus recentes 5 anos de história, a Nubank já acumula 4 milhões de clientes e já emitiu mais de 5 milhões de cartões de crédito. Já recebeu investimentos de empresas como Sequoia Capital, Tiger Global e Founders Fund. O valuation da empresa já chega a US$ 4 bilhões.

Este é o primeiro investimento que a gigante chinesa faz no Brasil e, tendo em vista que, com o WeChat, um dos seus principais objetivos é a digitalização do dinheiro e de suas transações, a Nubank pode ser um grande começo para a chegada dos avanços das evoluções nos meios de pagamento asiáticos.

Mas, talvez você esteja se perguntando porque toda esta euforia. Para isso, vale analisarmos o quanto o cenário chinês já saltou neste segmento, o que tem levado de bom aos consumidores, o governo e também às empresas.

Tencent e Alibaba

As duas maiores empresas de meios de pagamento digital da China são a Alibaba e a Tencent. Junto à elas, todo mercado chinês deste segmento movimentou, apenas em 2016, US$ 5,5 trilhões em transações digitais.

Eficácia

Em menos de três anos, os chineses conseguiram, praticamente, extinguir a utilização de cédulas para pagamentos ou de cartões.

Economia nas empresas

A digitalização do dinheiro tem como objetivo não só facilitar a vida do consumidor, mas também gerar economia as empresas do ramo financeiro.

Segundo estudo do IG, há uma estimativa que, com este cenário, se economize US$ 44 mil anualmente apenas em emissões de cartão e em perdas dos plásticos, a previsão é da economia de US$ 1,4 milhão.

Estratégia

A aposta deste cenário foi estrategicamente lançada em um momento em que o PIB do país cresceu 31% per capita e a taxa de utilização da internet saltou junto com 30%.

Tendo em vista o cenário, as próprias empresas tornaram também a aquisição de aparelhos celulares mais acessíveis e o resultado é o que temos visto.

Utilidade social

Na China há universidades que já oferecem a oportunidade dos alunos realizarem todos os seus pagamentos digitalmente. Na saúde, a prática já tem diminuído filas e tempo de atendimento ao paciente, além de fazer parte do projeto Finanças Verdes, estruturado e guiado pelo governo Chinês.

Reflexo na marca e futuro

Até o ano passado, o valor de branding da Tencent estava na casa dos US$ 277,1 bilhões e não para de crescer. Para o futuro, especialistas dizem que, tanto para o Governo quanto para empresas privadas, a estimativa e de que haja até 75% de economia em suas atividades.

E, para nos ajudar a ter uma visão ainda mais estratégica sobre o que significa este novo momento do mercado, convidamos para uma conversa, Ítalo Lare, Partner e CBO da Portfy. Confira!

[Blueprintt] Por que você acha que a Tencent, que é mais focada em jogos e mídias sociais, apostou e tem apostado nas fintechs, como a Nubank e WeBank?

Eu não afirmaria que o foco da Tencent são jogos e mídias sociais. Estes temas estiveram em evidência na China em um passado não muito distante, mas, avaliando a história da empresa – desde a criação do Tencent Research Institute em meados de 2007 –, tem sido estudar/explorar como a tecnologia – principalmente a Internet – tem transformado a vida do ser humano nos últimos anos e, através dos dados obtidos nesta pesquisa, avaliar como inovar na criação de novos produtos e serviços – o Smart Life é essencialmente o conceito mais utilizado por eles.

[Blueprintt] O que o mercado brasileiro tem a ganhar com a aproximação dos chineses, tendo em vista sua extrema relevância em inovação e qualidade para o segmento de meios de pagamento?

Nesse caso o ganho é mútuo. Claro que com um impacto maior no ecossistema brasileiro.

Um ponto forte dessa colaboração é a nossa exposição ao dinamismo do chinês no trabalho, e se aplica a diversas áreas, desde o desenvolvimento de uma nova solução, até a forma como eles executam um projeto. Incluindo a fase de pós-operação que, muitas vezes, é colocada em segundo plano nos modelos de gestão de projetos no país.

Quando pensamos em qual é a maior contribuição que a China tem a nos oferecer numa eventual colaboração, o que nos vêm à mente são novas tecnologias, inovação e modelos de negócios disruptivos.

É claro que esses pontos são importantes mas, quando começamos a trabalhar juntos e vermos de perto o modelo chinês de trabalho em funcionamento, percebemos que o maior valor está na forma simples, dinâmica e desburocratizada com que eles executam todo tipo de atividades, desde a definição de escopo de um projeto até a implementação de uma plataforma de pagamentos para bilhões de pessoas.

Em suma, o foco está em uma execução simples e rápida, coisa que nós brasileiros temos muito a aprender com eles, principalmente na desburocratização dos nossos processos de trabalho.

[Blueprintt] O que você enxerga como grande aposta no mercado de meios de pagamento brasileiro? Alguma empresa ou ideia em potencial.

Em março deste ano, tivemos a inclusão da circular 3.885 do Banco Central, o que na minha opinião, demonstra cada vez mais o apoio e interesse do BACEN aos novos entrantes no mercado de meios de pagamentos brasileiro, principalmente as fintechs.

Com a entrada inevitável de grandes players chineses no Brasil, não há dúvida que tecnologias que estavam paradas no pipeline por conta das prioridades de grandes emissores de pagamento, passarão por um esforço intenso de ganho de escala às pressas, principalmente com a chegada de uma bigtech chinesa que, infelizmente, ainda não posso citar o nome.

[Blueprintt] E no mercado chinês, quais você acha que foram as grandes sacadas deles?

Conforme eu disse em minha palestra no Congresso C4, eu citaria uma frase do filósofo e sociólogo alemão Georg Simmel, em seu livro seminal “A Filosofia do Dinheiro”, para sintetizar o grande insight por trás das empreitadas chinesas no mundo de pagamentos:

“O dinheiro é essencialmente um produto da interação social, e desempenha um papel decisivo na promoção de trocas sociais”.

O que as Bigtechs como a Tencent e o Alibaba fizeram nos últimos anos foi nada mais nada menos que empregar em um formato “frictionless” serviços financeiros em mídias sociais.

[Blueprintt] Qual ou quais ainda são as principais barreiras para a evolução do mercado de meios de pagamento no Brasil?

Não só em meios de pagamento, mas no mercado financeiro como um todo, a concentração bancária ainda impõe dificuldades na evolução dos serviços e produtos prestados.

Mas, estou otimista com a forma com que os órgãos reguladores do mercado vêm atuando em prol do aumento da competitividade e da inovação, que consequentemente aumentam a qualidade, a variedade e melhoram o preço dos serviços ofertados.

Gostou da entrevista?

O Ítalo Lare foi um dos palestrantes do Congresso C4, realizado pela Blueprintt no começo do mês. O evento destacou a força do mercado chinês de meios de pagamento eletrônicos, entre outros assuntos.

Fique de olho na nossa agenda e participe de eventos como esse.

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