A política do frete mínimo para o transporte rodoviário de cargas continua dividindo opiniões.
Para alguns, a medida ajusta os valores dos fretes à realidade atual de custo. Para outros, interfere nos preços de produtos e pode diminuir a competitividade do País.
Então, como manter um ambiente de negócios sustentável nesse cenário?
Para Antonio Lauro Valdivia Neto, assessor técnico da NTC&Logística há 11 anos, a greve dos caminhoneiros no primeiro semestre de 2018 interferiu diretamente na logística rodoviária, fundamental para qualquer transporte de carga no Brasil.
Ele acredita que a política do frete mínimo determinada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) tem mais pontos negativos do que assertivos.
Segundo o especialista, que tem mais 25 anos de experiência, a fragilidade evidente do setor de transportes interfere diretamente na forma como são realizadas as negociações entre embarcador e transportador.
Mesmo assim, para ele, o transportador que não aprender a cobrar não continuará no mercado. Então, está havendo uma movimentação interessante desse tipo de empresa.
Cenário difícil para o setor de transportes
O cenário econômico continua repleto de incertezas e, pelo menos por enquanto, o governo não deu sinais de que revogará a atual política do frete mínimo.
A previsão é de que a ANTT mexa na tabela de frete mínimo somente na segunda quinzena de janeiro de 2019. Enquanto isso, o órgão está se preparando para realizar uma fiscalização eletrônica para regularizar o pagamento de pedágio.
Para Neto, o transportador precisa compreender que o embarcador sempre quer pagar o mínimo. Assim, é fundamental aprender a negociar o melhor frete, oferecendo descontos e não só cobrindo a oferta da concorrência, sem base de negociação.
Em 2014, através de um de seus estudos, o assessor técnico da NTC&Logística constatou que só uma transportadora de carga fracionada sobreviveu entre as 10 maiores companhias existentes no setor brasileiro. Nesse contexto, ele observa que:
- O setor tem baixa capacidade técnica e, historicamente, o transportador não tem poder de barganha;
- No Brasil, paga-se muito pouco pelo custo da atividade do transporte;
- Há um “desbalanço” de carga, com muita carga concentrada no Sul e Sudeste e quase nenhuma no Norte e Nordeste.
Então, como superar os desafios da política do frete mínimo e de um setor tão volátil como o de transportes? Veja a experiência da Unilever a seguir.
A experiência logística da Unilever
Luz Pernin, diretora logística da Unilever, lembra que a greve dos caminhoneiros de 2018 fez com que a empresa enfrentasse vários dilemas em sua logística rodoviária.
O primeiro passo adotado, finalizada a greve, foi retomar as atividades de distribuição e de fábrica para garantir a sustentabilidade da logística rodoviária.
Feito isso, a Unilever passou a analisar a tabela de frete mínimo para entender quais ações seriam ou não assertivas, sempre com o aval jurídico. A companhia precisou entender o que era ou não operacional.
A diretora logística da empresa recorda que algumas tarifas de fretes não seguiam uma sequência lógica por quilometragem, por eixo ou por tipo de carga, por exemplo.
Também viu que, por mais que se a empresa se esforçasse, não conseguia definir os próximos passos para esse setor.
Com o tempo, entendeu que era ideal adotar medidas temporárias e definir cenários caso a caso.
Modelo lógico para tomada de decisões
Como a malha rodoviária utilizada pela Unilever é muito complexa, seja de distribuição urbana ou de grandes trajetos, a empresa passou a ser cautelosa nas contratações de frotas dedicadas e fretes viagem e buscou construir um modelo lógico antes de tomar decisões em se tratando de fretes.
Caso a companhia optasse por uma frota dedicada, era preciso ter acesso rápido às transportadoras que trabalhassem com esse tipo de contratos.
Por outro lado, a Unilever não poderia manter uma frota própria, pois é um risco gerenciar uma frota sem essa experiência operacional.
Então, segundo Pernin, a empresa investiu fortemente em tecnologia de logística no Brasil, determinando os pontos de coleta e de entrega e estimando a quilometragem de cada transporte de carga.
Para ela, o sucesso da logística depende da conexão entre embarcador e transportador. Dessa forma, ambos devem se manter informados e criar seus próprios canais antes de tomarem decisões.
Por fim, alerta: o sucesso na logística de toda empresa depende de um formato logístico. Por isso, é preciso entender qual é a função do transporte dentro da cadeia de supply chain.
Na Unilever, os fornecedores logísticos atuam no transporte de matérias-primas e na distribuição de produtos acabados.
Os tipos de cargas
- Geral: volumes acondicionados em sacos, fardos, caixas, cartões, engradados, amarrados e tambores ou volumes sem embalagens;
- A granel: sem acondicionamento específico, apresentando-se sob a forma de sólidos, líquidos e gases; sem invólucro ou embalagem;
- Frigorífica: refrigerada ou congelada para conservar as qualidades e essências dos produtos durante o transporte;
- Perigosa: pode causar acidentes e gerar riscos às pessoas;
- Neogranel: conglomerados homogêneos de mercadorias sem acondicionamento específico que podem ser transportados em lotes num único embarque.
O que é preciso para calcular o valor do frete mínimo, segundo a ANTT
- Identificar o tipo de carga que irá transportar: carga geral, carga a granel, carga frigorífica, carga perigosa ou neogranel;
- Saber qual a distância da operação de transporte e identificar em qual linha da tabela se encontra. Nos casos em que não existe carga de retorno, para incluir o custo da volta, deve-se multiplicar a distância de ida por dois e procurar a linha em que está essa nova distância está. Anote a distância calculada nesse passo;
- Anotar o valor do custo por km/eixo da linha em que está a distância que calculada no passo anterior;
- Multiplicar a quantidade de eixos da combinação de veículos e implementos utilizado na operação pelo custo km/eixo, encontrado no passo 3;
- Multiplicar a distância anotada no passo 2 pelo valor encontrado no passo 4, para obter o valor mínimo da viagem.
Pedágio, tributos (IR, INSS, ICMS, etc) e outras despesas devem ser consideradas caso a caso, pois dependem da operação de transporte.
A Unilever e a NTC&Logística estiveram presentes no Logistics Management Forum, promovido pela Blueprintt em outubro.
Se você quer participar de eventos como esse, fique de olho na nossa agenda.
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