Os desafios para o Open Banking são tão numerosos quanto seus benefícios. De um lado, o novo sistema bancário promete vantagens ao consumidor a partir do compartilhamento de suas informações entre diferentes instituições financeiras.
De outro, a transparência e segurança no uso dos dados do cliente e a baixa educação financeira do brasileiro aparecem como pontos sensíveis.
Nesse cenário, quão interessados estão os players do mercado pelas oportunidades e desafios para o Open Banking?
Oportunidades e desafios para o Open Banking na visão dos players
As instituições participantes do Open Banking estão divididas entre: adesão obrigatória (bancos com portes até e superior a 10% do PIB); e adesão voluntária (demais instituições).
Uma vez no sistema, vale a regra da reciprocidade. Ou seja, um grande banco poderá acessar as informações dos concorrentes, mas seus dados também serão compartilhados.
De modo geral, tanto para os bancos tradicionais quanto para as demais instituições, a segurança é tida como um dos maiores desafios para o Open Banking.
Para Ingrid Barth, co-fundadora da fintech Linker e diretora da ABFintechs – Associação Brasileira de Fintechs, o uso dos dados do consumidor exige atenção.
“O Open Banking vai nos permitir ler dados de maneira inteligente para construir produtos mais personalizados. Com isso, aumenta o acesso da população a serviços financeiros e o crédito é democratizado. Mas é preciso ter muito cuidado para garantir a segurança tecnológica e legal”, afirma.
Daniel Mazini, Diretor de Produtos da Neon Pagamentos, concorda que a integração das informações será fundamental para ofertas mais customizadas. Entretanto, “a estrutura de segurança e governança tem que ser muito bem feita, assim como a utilização dos dados”.
Ivo Mósca, Superintendente de Open Banking & Pagamentos Instantâneos do Itaú-Unibanco e Representante da Febraban no Conselho Deliberativo do Open Banking, vê uma abertura de mercado com o desenvolvimento de novos produtos e serviços. Porém, reforça que a preocupação dos bancos com a segurança dos processos e com a transparência no uso dos dados é um dos principais desafios para o Open Banking.
“Os dados devem ser compartilhados não só com a devida autorização do cliente, mas para a finalidade correta. Na Europa há uma dificuldade de aceleração do Open Banking pelo desconforto com a privacidade dos dados. No Brasil entendemos que essa barreira será menor. Mas para que ocorra de forma sustentável, precisamos desenhar bem as camadas dos processos de autorização”, diz.
O que consumidor vai ver em 2021
Cumprir a agenda regulatória do Banco Central é um dos primeiros desafios para o Open Banking. De acordo com o cronograma do BC, atualmente o Brasil se encontra na primeira fase de implementação do sistema bancário aberto, iniciada em 01 de fevereiro deste ano.
Essa etapa, mais técnica, prevê a troca de informações entre as instituições participantes. Como, por exemplo, seus canais de atendimento e os produtos e serviços mais importantes que oferecem.
É apenas na segunda fase, marcada para julho, que o consumidor sentirá os primeiros impactos do Open Banking. A partir dessa data ele poderá autorizar o compartilhamento de seus dados cadastrais, transacionais e de operações de crédito com as instituições de sua preferência.
“Nesse momento o consumidor terá a oportunidade de testar outros bancos e comparar taxas e serviços. Seremos capazes de absorver essas informações rapidamente para criar ofertas assertivas de serviços, segundo o perfil do cliente”, explica Mósca.
O compartilhamento de informações proporcionado pelo Open Banking também será capaz de sanar o gargalo de dados existente no País. Em contrapartida, haverá diminuição de custos para as instituições financeiras.
Isso porque, atualmente, não há uma padronização do onboarding. Ou seja, do processo de cadastro do cliente em uma instituição financeira. Por isso, e também para prevenir fraudes, as instituições precisam fazer uma extensa checagem da veracidade dos dados apresentados. O resultado é um alto custo para o sistema financeiro, repassado ao consumidor nas taxas de produtos e serviços.
“Vejo com muito bons olhos a possibilidade de unificar informações que hoje são pulverizadas. O Open Banking permite reutilizar dados do cliente que já foram validados por outro banco, criando um ciclo virtuoso. Isso vai trazer benefícios financeiros na forma do barateamento de empréstimos”, prevê Ingrid.
Desafios para o Open Banking: possíveis barreiras à adesão
Mas para que o consumidor desfrute dessas vantagens, antes é preciso que ele entenda o que é o Open Banking e tenha clareza sobre seu funcionamento.
Neste ponto, embora haja boas perspectivas de adesão baseadas na rápida popularização do PIX no Brasil, as instituições concordam que deverá ser feito um grande esforço de comunicação e conscientização da sociedade.
Afinal, diferentemente do PIX, que é um aplicativo, o Open Banking é um sistema. Desse modo, será acessado por meio dos canais do banco no qual o cliente já é correntista. Como resultado, seu conceito e funcionamento são um pouco mais complexos.
“Na verdade, o cliente deveria ver o benefício do compartilhamento de dados sem necessariamente dar um nome pra isso. Esse é um processo que vamos ter de acertar muito bem”, diz Ivo Mósca.
Um dos desafios para o Open Banking nesse sentido é a pouca educação financeira do brasileiro. Consequentemente, aumenta a vulnerabilidade dos clientes a golpes e fake news.
“É importante esclarecer processos. Precisamos evitar que as pessoas cliquem em links suspeitos no WhatsApp ou acreditem em notícias falsas”, alerta Mazini.
De acordo com Ingrid, no fim das contas é a experiência do cliente que vai ditar o ritmo de adesão ao Open Banking. “Não adianta comparar a evolução do Open Banking em outros países se não nos preocuparmos com a experiência do usuário. Não vai ser um trabalho fácil. Temos que garantir segurança, performance e um sistema amigável, que não imponha barreiras à sua adoção”.
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