A economia brasileira enfrentou um período de recessão que agora começa a ser superado. Neste momento, as empresas dedicam-se a repensar suas operações de supply chain e logística para atender à demanda que, aos poucos, volta a crescer. Nesse cenário, fica claro que é importante criar uma cadeia de suprimentos capaz de responder rapidamente ao comportamento volátil da demanda. Afinal de contas, já aprendemos que as crises vêm e vão, e as empresas que sobrevivem são aquelas que conseguem se adaptar às mudanças do cenário.
A Blueprintt realizou um painel no evento Supply Chain Logistics Summit voltado justamente para discutir essa questão. Neste post, você verá as principais informações e dicas apresentadas pelos participantes do painel: Jorge Buzzetto, Diretor de Operações de Suprimentos e Business Partner da SYNGENTA; Renato Miatello, Vice-presidente de Supply Chain da UNILEVER BRASIL INDUSTRIAL; e Marcelo Roma, Diretor de Supply Chain da INTEGRATION CONSULTING, mediador da mesa.
Macrotendências de Supply Chain
Um dos pontos levantados no debate como uma tendência geral foi o dilema enfrentado pelas empresas de logística para equilibrar custo e qualidade, eficiência e nível de serviço.
Conforme apontado por Marcelo Roma, existe uma pressão cada vez maior para reduzir os custos e, ao mesmo tempo, aumentar o nível de serviço — não apenas em relação ao atendimento e à experiência do cliente, mas também em relação a questões mais amplas, como responsabilidade socioambiental.
Outro aspecto abordado como tendência foi o papel da tecnologia em logística e seu acelerado desenvolvimento. Blockchain, Cloud, Internet das Coisas, Big Data, Uberização são apenas alguns exemplos de termos que ganham atenção dentro das empresas. Roma sugere uma divisão em quatro blocos da aplicação da tecnologia nos negócios e, particularmente, na logística:
- visibilidade — possibilidade de gerar e disponibilizar mais informação relevante na cadeia de suprimentos;
- colaboração — possibilidade de superar a própria escala do negócio e até reduzir custos por meio de colaboração com outros;
- flexibilidade — possibilidade de oferecer uma experiência personalizada para o cliente, sem onerar tanto a cadeia;
- sustentabilidade — possibilidade de atender ao anseio da sociedade e às cobranças dos acionistas por iniciativas sustentáveis, que impactam o valor da marca.
Também foi destacado o fato de que indicadores importantes, como estoque da economia nacional e PIB projetado x PIB real, vêm apresentando variações muito altas nos últimos anos. Ou seja, a imprevisibilidade também é uma tendência que deve ser levada em consideração pelas empresas de logística.
Desafios de Supply Chain
Além dos desafios inerentes à atividade, as empresas de supply chain enfrentam ainda desafios criados pela imprevisibilidade, conforme já foi citado. Nos últimos anos, alguns exemplos famosos da incerteza que afetaram diretamente a atividade logística foram as mudanças frequentes no preço do combustível e a greve dos caminhoneiros de 2018. Portanto, uma característica importante de quem atua nesse setor é a resiliência.
Soluções para lidar com o comportamento volátil da demanda
Segmentação da cadeia de suprimentos
Renato Miatello, que atua em Supply Chain na UNILEVER, apresentou no painel algumas soluções que a empresa vem adotando para lidar com a imprevisibilidade e, principalmente, o comportamento volátil da demanda. Miatello ressalta o modelo de segmentação que a Unilever adota em sua cadeia de suprimentos, uma iniciativa que ganhou força na empresa em decorrência da crise.
A Unilever trabalha com uma vasta gama de produtos, de alimentícios a itens de limpeza. Por muitos anos, ela lidou com a cadeia de suprimentos de todos eles de maneiras muito parecidas, em relação a estoque, alocação, distribuição e outros fatores. Agora, a empresa tem uma nova política: tratar o diferente de maneira diferente. Mapearam os produtos, formularam quatro grandes segmentos e adotaram como motores da cadeia os fatores volume e rentabilidade do item.
Assim, produtos de alto volume e baixa rentabilidade exigem uma cadeia lean, com estoque mínimo e custo reduzido. Produtos de alto volume e alta rentabilidade exigem uma cadeia responsive, com estoque ligeiramente superior e descentralizado, para uma reposição rápida no PDV, pois perder vendas deles representa uma queda mais significativa no lucro da empresa.
Por sua vez, produtos de baixo volume e alta rentabilidade exigem uma cadeia agile, com centralização do estoque mas priorizando a reposição rápida. Finalmente, os produtos de baixo volume e baixa rentabilidade são um caso à parte, pois é preciso realizar um trabalho de marketing para alavancar as vendas e aumentar a rentabilidade; se isso não for possível, devem ser retirados de circulação.
Miatello comenta ainda que toda a cadeia é afetada pela segmentação. Em outras palavras, cada segmento tem características distintas na organização da cadeia.
Criação de diferentes cenários preditivos
Jorge Buzzetto, da SYNGENTA, também apresentou as soluções adotadas pela empresa. Um ponto de partida interessante utilizado é o conceito de VUCA — sigla em inglês que representa um ambiente de alta volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade.
O desenho da cadeia de supply chain é criado levando em consideração essas quatro características. Além disso, a empresa também trabalha com a criação de diferentes cenários preditivos: um otimista, um pessimista e um mais provável. Em seus comentários, Buzzetto aponta que, no planejamento de supply chain, além de volume e rentabilidade, a SYNGENTA leva em consideração quais produtos ela não pode se dar ao luxo de não ter disponíveis.
Vale a pena lembrar que a empresa trabalha com produtos para afastar pragas das lavouras e, nesse segmento, a demanda é incerta. Ao mesmo tempo, se um produto específico faltar quando o cliente (o agricultor) precisa dele, as consequências podem ser graves, incluindo a perda de lavouras inteiras e a responsabilização legal da SYNGENTA como fornecedora.
Sales and Operations Planning (S&OP)
Os participantes da mesa também comentaram sobre a importância do S&OP como uma solução para lidar com o comportamento volátil da demanda. S&OP — Planejamento de Vendas e Operações — é uma estratégia para antecipar a demanda. Antes, era aplicado apenas por setores comerciais, marketing e chão de fábrica. Agora, também é utilizado para gestão de supply chain.
Um comentário interessante de Buzzetto sobre S&OP foi que a estratégia geralmente trabalha com ciclos mensais em suas predições, o que pode acarretar muita inércia na reação. Então, ele sugere adotar ciclos mais curtos, que permitam maior dinamismo da empresa para se adaptar à demanda real e atualizar suas estimativas.
Neste artigo, você entendeu melhor o problema do comportamento volátil da demanda para as atividades de supply chain e logística e viu algumas dicas de executivos de grandes empresas sobre como superar esse problema.
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