O papel do RH na contratação de diversidade nas empresas

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A contratação de diversidade é um tema que muitos profissionais de RH lidam no dia a dia das empresas.

A inserção e promoção à cargos de gestão de mulheres, negros, pessoas com deficiência, homossexuais e transexuais é uma realidade urgente para tornar as companhias mais justas.

Para se ter uma ideia, de acordo com um estudo realizado pelo Fórum Econômico Mundial, levaria em média 95 anos para que homens e mulheres chegassem à um patamar de plena igualdade no Brasil.

Sobre as pessoas com deficiência, conforme outra pesquisa realizada pelo Instituto Ethos, apenas 2% do quadro de colaboradores de 500 empresas ouvidas são representados por esses profissionais – o mínimo exigido por lei.

Ainda de acordo com o mesmo levantamento, as mulheres representam apenas 13,6% dos cargos executivos, nenhuma cadeira ocupada por alguém de origem indígena e apenas 4,7% por negros.

Theo Van der Loo, ex-CEO da Bayer Brasil, é um profissional disruptivo e conhecido neste assunto, por ter revolucionado a diversidade dentro da Bayer.

Apenas em 2004, é que a equipe de Força de Vendas da empresa foi receber a primeira colaboradora negra e, só em 2014, iniciou-se um real projeto estruturado de tratamento do assunto dentro da instituição.

Por sua posição hierárquica na época (CEO), por ser homem e branco, Van der Loo considerou ter utilizado um espaço, já privilegiado, de fala para trazer a luta de quem tem seus discursos, por muitas vezes, taxados de “mimimi”.

Confira a seguir dicas do executivo, que esteve presente na última edição do HR Summit, realizado pela Blueprintt, para promover a contratação de diversidade nas empresas.

A busca pela diversidade: gênero e raça

Na Bayer e hoje como consultor, Van der Loo se envolveu muito com a luta racial e acredita que este ainda é um dos temas mais cruéis no mercado de trabalho.

“Reparem quando forem aos restaurantes da Zona Sul ou ao Shopping Morumbi, por exemplo, a quantidade de negros que você vê e em quais posições”, em tom indignado e provocativo.

O executivo convidou a todos a fazer o que, provavelmente, a maioria dos leitores desta matéria também nunca fez: prestar atenção aonde estão os negros em nossos espaços sociais.

Ele também lembra que, em algumas posições de trabalho, o negro é mais aceito do que em outras. Por exemplo, na dança, em atividades braçais ou domésticos, são quase nulas as ressalvas ao se contratar profissionais negros(as).

“Houve um momento em que conheci um jovem negro que não passou em uma entrevista e me interessei em fazer uma amizade com ele. Após algum tempo, liguei para ver como ele estava e ele me disse que acabara de sair de uma entrevista aonde o recrutador olhou nos olhos dele e disse: eu não entrevisto negros”, conta Van der Loo.

A partir desta estória é que surgiu um dos seus posts mais famosos, que inclusive o fez ser procurado por grandes veículos do mundo para falar sobre, como o El País.

O candidato tinha formação nacional e internacional, vinha de família humilde e havia se empenhado muito para disputar aquela vaga. Van der Loo indicou que ele fosse à polícia, mas o rapaz tinha medo de manchar sua carreira e, inclusive, disse que já estava acostumado.

Este sentimento de conformismo, que muitas pessoas negras sentem em meio ao cansaço da luta diária, foi o que mais estimulou o executivo a ajudar.

Para ele era (e ainda é) inadmissível pessoas em posições de apoio à causa, como as brancas, principalmente em altos cargos, verem aquilo e tratarem como algo normal.

“O negro e a mulher têm uma segunda agenda fora o emprego, a cor da pele e a luta de gênero. Ao mesmo tempo que tem que se esforçar para ser melhor que os brancos e homens, eles têm que lutar pela causa, ajudar seus semelhantes a se protegerem”, frisa Van der Loo.

Pela luta de gênero, para o executivo era inaceitável uma empresa que cuidava, prioritariamente, da saúde das mulheres, ter apenas homens na Força de Vendas (isso em 1988) indo às reuniões com médicos para falar sobre menstruação, por exemplo. E assim, ele iniciou a sua empreitada na Bayer.

O tabu da contratação de diversidade

“Quando a gente perde o direito de ser diferente, a gente perde o privilégio de ser livre”.

Esta foi uma das frases mais abrangentes e impactantes que o executivo usou em sua palestra. Para ele, é sobre isso que falamos ao abordar qualquer luta por equidade dentro das empresas.

Além da equidade, Van der Loo também abordou muito a questão da meritocracia, que, para ele, é um dos principais muros construídos para a contratação de diversidade nas empresas.

“Eu vivi 12 anos na Holanda, lá o filho do Rei vai para a mesma escola que o filho do operário. Assim, talvez eles possam lutar pelas mesmas vagas no mercado de trabalho”, frisa o holandês.

Dentro dos RHs, segundo o executivo, também há um outro problema estrutural que dificulta a contratação de diversidade, que é escolher candidatos mais por currículo do que por talento.

Isso se conecta muito com a questão da meritocracia, pois nem todo candidato que estudou fora ou é fluente em inglês é mais talentoso ou o melhor para o resultado que a empresa espera.

Ele acredita que a empresa pode ser um espaço de formação de profissionais, ajudando a quebrar esta obrigatoriedade de se achar “pessoas prontas”.

Em 2014, quando a Bayer começou a, de fato, emplacar projetos referentes ao assunto, fizeram um censo e detectaram que apenas 36% do quadro de colaboradores eram mulheres, 5% PCD (Pessoas com Deficiência) e 16% negros.

Era mais do que a hora de agir, porém, nele ele nem o RH da Bayer sabiam por onde começar.

Buscando apoio para divulgar o tema

Foi assim que Van der Loo conheceu o dono da revista Raça e ex-secretário de Igualdade Racial da Prefeitura de São Paulo, Maurício Pestana, que, ao indicar-lhe um livro de cabeceira sobre o assunto, o fez conhecer um jornalista especialista.

Esse profissional virou o seu amuleto na Bayer. O jornalista deu palestras e o ajudou a criar grupos de afinidade, que discutiam e emplacavam projetos anuais na empresa sobre diversidade, com profissionais de altos níveis hierárquicos como responsáveis

Ele também criou a Semana da Diversidade dentro da companhia.

“Uma das grandes dificuldades nas empresas quanto a questão da diversidade é você convencer o maior número de pessoas possível a entrarem nessa com você” disse Van der Loo. E foi nisso que o jornalista mais o ajudou.

Além dele, o ex-CEO também procurou uma mulher negra que trabalhava na empresa, a primeira a integrar a Força de Vendas da Bayer, para entender mais o que ela, como parte de duas lutas ao mesmo tempo, de gênero e raça, se sentia perante as dificuldades encontradas.

A sua resposta o chocou: “sentimos que, para chegar aos altos cargos, temos que nos esforçar duas vezes mais do que as mulheres brancas, quando comparadas aos homens, talvez três”, disse a colaboradora. Daí em diante, ele não parou nunca mais.

Seja um agente de mudança na sua empresa

Hoje, Van der Loo é aposentado, porém, expressou extrema felicidade (e tristeza ao mesmo tempo) por, mesmo assim, estar ali falando à frente de todos sobre um assunto tão importante como a contratação de diversidade.

“Pessoas em posições privilegiadas também podem ter maridos, esposas, filhos, sobrinhos, que são negros, gays, mulheres ou PCDs e que podem se engajar ainda mais no trabalho quando virem as movimentações feitas pela empresa”, acredita o executivo.

“Quando você usa da intuição, utiliza um sentimento genuíno para fazer algo pelos seus funcionários, apenas faça”, completa.

Ele lembra também que os profissionais de RH são os principais agentes dessa mudança em suas empresas.

Aliás, a contratação de diversidade é um tema que pode começar a ser tratado desde o Talent Acquisition.

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